terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A AVE GIGANTESCA

Seu Manoel é um sujeito bonachão, de bem com a vida, que passa as tardes no bar, tomando pinga, enquanto espera sua aposentadoria de dois salários mínimos, fruto de vários anos como funcionário público. Seus passatempos preferidos, além da caninha, são o de pescar e passar horas conversando.
Seu Manoel não é sujeito de polemizar as questões, muito pelo contrário, ouve tudo com a maior atenção e somente quando percebe uma informação errada ou exagero, dá algum palpite na conversa.
Antigo morador do Corre-Água, conhece os habitantes pelos nomes, assim como a seus filhos e netos, sabem quem é “gente boa”, cultiva as amizades e sempre está em visita a alguma casa. Foi em uma dessas ocasiões que visitou a residência do Seu Jarbas, afamado mentiroso do lugar, e dele, entre um cafezinho e um cigarro de palha, ouviu uma história que lhe pareceu muito esquisita.
Seu Jarbas lhe disse que certo dia estava no mato, perseguindo o que parecia ser um veado, quando no meio da floresta, um local onde poucas pessoas costumam chegar devido à distância, percebeu uma árvore. “Mas não era uma árvore comum”, contou-lhe o loroteiro. Era uma árvore de tamanha largura que com certeza cem homens, de mãos dadas, não conseguiriam abraçá-la. Seus galhos eram quilométricos, enormes mesmos, e as folhas imensas, que apenas uma daria para cobrir uma cabana. Qual a altura da árvore? Não dá nem pra imaginar, porque chegava até as nuvens. “É a mais pura verdade, Seu Manoel. É uma pena que na volta eu perdi a trilha do matão onde encontrei a árvore”, finalizou Seu Jarbas, gabando-se.
Seu Manoel coçou a barba rala e procurou não desmerecer o amigo. Mas, antes de ir, contou um caso que se passou, certo dia, quando estava sentado na varanda de seu sítio.
“Eu estava ali, pensando na vida, quando o céu de repente escureceu. Olhei para cima e, o que vi? Era uma ave de plumagem colorida como o arco-íris. Mas quem me dera que fosse um pássaro comum. Este era enorme, gigantesco mesmo. Suas asas eram tão grandes que encobriam o sol. E a calda? Era tão comprida que durante pelo menos meia hora passou em minha frente aquela procissão de plumagem sem fim”.
- Puxa, Seu Manoel. Isso só pode ser uma aberração da natureza. Afinal, pra que Deus criaria uma ave assim tão grande?
- Com certeza para pousar na sua árvore – emendou Seu Manoel.

Joseli Dias
do livro O Conto do Vigário

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